“Quando criança, todos desenham... Todas as crianças gostam de desenhar e sabem desenhar... Mas um dia lhes ensinam a escrever e elas deixam de desenhar. É mais fácil escrever a palavra montanha do que representá-la... Representá-la em todos os seus detalhes... Suas saliências e reentrâncias, sua massa, sua proporção... Seu tapete gramado, ou não... De certa forma os desenhistas não perdem esse elo. Os artistas, de forma geral, continuam capazes desse trânsito.”
O Texto acima é parte de um monólogo que o filósofo e aluno do curso de teatro da UFMA Carlos Eduardo Guimarães Medeiros deveria apresentar no encerramento do XXII SEMIC, no dia 27 de outubro de 2010, às 16:00 horas, na Biblioteca Central, antes da entrega dos prêmios aos melhores trabalhos apresentados por estudantes nesse seminário.
O Coordenador do SEMIC, por ordens do Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação, Prof. Fernando Carvalho, teve que comunicar a contragosto ao Carlos Eduardo a decisão de que sua peça teatral havia sido cancelada e seria substituída pela apresentação do vídeo institucional sobre os 44 anos da UFMA.
Carlos Eduardo é aluno do curso de extensão, “História Social do Rock: A contracultura dos anos de 1960 aos dias atuais”, coordenado pelo professor Claudio Zannoni (DESOC) e conta com a participação dos professores Flavio Reis (DESOC), Antonio Pinto (DEFIS) e Maria Mirtes dos Santos Barros (DEARTE). Por essa razão, esse e outros alunos e ex-alunos dessa universidade se apresentaram num show no dia 26, em homenagem a três grandes nomes do rock na UFMA: Janis Joplin, Jimi Hendrix e Jin Morrisom, como parte das atividades desse projeto de extensão e pesquisa.
Lamentamos que este fato não tenha sido percebido pela comunidade acadêmica e que tenha acontecido na universidade, paladino da liberdade e da democracia.
Essa atitude atinge o alunado desejoso de expressar seus anseios, sua liberdade e seus ideais. É necessário reconhecer, de uma vez por todas, que a finalidade mesma da universidade é formar futuros cientistas, técnicos e artistas. Não podemos e não devemos implantar uma “gerontocracia”. Isso leva à estagnação, à acomodação. Não é demais afirmar que juventude rima com liberdade, criatividade e, é claro, com diversão.
Tudo isso é do âmbito da cultura. É dela que depende a transformação do homo em humanitas.
A razão desse ato não é do nosso conhecimento. No entanto sabemos que o conservadorismo e a intolerância já levaram esse país a implantar o autoritarismo onde os estudantes universitários e secundaristas foram seus alvos preferenciais. Nosso objetivo é alertar para o impacto desse tipo de medida, por que não dizer censura? Que concepção os envolvidos nesse triste episódio têm sobre arte, sobre cultura e sobre estética?
O ser humano saudável é aquele cuja razão é temperada com generosas doses de emoção; cujos pensamentos científico, artístico e poético cabem num mesmo cérebro. Não é razoável passar-se a imagem de que na Universidade Federal do Maranhão a cultura é um bem supérfluo.
Gostaríamos de manifestar publicamente nosso apoio a Carlos Eduardo, da mesma forma que fazemos um apelo para que atos dessa natureza não mais se repitam. A juventude brasileira pagou um preço excessivamente alto para conquistar a liberdade de expressão, legado maior deixado a todas as gerações que nasceram após os traumáticos anos de ditadura.
São Luís, 29 de outubro de 2010